Hoje ouvi um comentário muito interessante sobre o erro que me levou a algumas reflexões e gostaria de compartilhar com meus visitantes.
O que pensamos sobre os erros?
Quando são nossos, temos uma tendência a imediatamente buscar uma argumentação que o justifique para nós (principalmente) e para os outros - ainda que saibamos que isto não modificará sua natureza negativa.
Quando os erros são praticados pelos outros, temos uma tendência a sempre julgá-los conforme nossas próprias verdades, confrontando tais erros com aquilo que acreditamos serem acertos. Não é nossa primeira atitude a de buscar alguma justificativa para eles.
Desta forma, se pensarmos bem, podemos concluir que não encaramos os erros como uma coisa natural - se nossos, justificamos; se dos outros, julgamos - nunca ficamos indiferentes a eles - o que seria próprio se fossem da natureza humana, como: respirar, pensar, sentir, comer, enxergar, falar, ouvir, caminhar, crescer, envelhecer... Nada disso é questionável, salvo por alguma disfunção, pois tudo faz parte da natureza humana. Então, porque temos o costume de dizer que "errar é humano"?
Errar é humano?
Se a resposta for positiva, além de justificar nossos próprios erros deveríamos justificar os erros dos outros naturalmente. Mas não. E isso se deve às consequências negativas dos erros, impossíveis de serem ignoradas por nós e pelos outros. Acredito que muitas vezes ficamos a repetir assertivas que ouvimos sem fazer os devidos juízos de valor sobre as mesmas. Até porque incomoda questionar tal frase - tão aliviadora...
Mas meu convite não é para o conforto, mas para uma meditação crítica que nos leve a uma melhor qualidade de vida.
Seres humanos e erros coexistem, de fato. No entanto, ambos não se integram.
Seres humanos foram feitos para o acerto, para a perfeição e sua busca é o que nos torna mais sadios.
A correção dos erros é o que nos faz ser melhores colaboradores para tudo que vivemos e tudo que queremos viver. Corrigir erros produz uma cadeia de acertos.
Acertos fazem evoluir a tecnologia, auxiliam novas descobertas, previnem acontecimentos desagradáveis, produzem melhores resultados em tudo.
Quando nos integramos aos erros, dizendo que errar é humano, estamos certificando nossa total incapacidade de viver em plenitude a natureza humana.
Se prestarmos atenção aos demais animais da natureza, observaremos que seus "erros" são justificados por seus instintos e por sua irracionalidade.
A nós, seres humanos, foi dada a racionalidade - a capacidade de ponderar razões, valorá-las, controlá-las. Nossos instintos são subjugados pela nossa racionalidade. E a racionalidade vai se aperfeiçoando pela prática e pela importância que a ela conferimos.
A racionalidade é para o ser humano o que a bússula (ou GPS dirão os mais modernos) é para o navegador - sem ela não se atinge o fim almejado.
Errar é desumano.
Sinto dizer... Errar é algo que não se coaduna com nossa natureza, é algo artificial. O erro não existe por si só, não nasce com a gente. O erro é o produto artificial criado pelas nossas incapacidades/irracionalidades temporárias - e todas o são - contra as quais devemos agir argutamente, até que o deixem de ser, pelo exercício da inteligência, da racionalidade.
Não estou conclamando ninguém a uma viagem ao impossível. Ao contrário, estou convidando a todos para uma mudança de paradigma em que o erro deve ser visto como algo distinto da natureza humana e, por isso, assumido, corrigido e, acima de tudo, evitado.
Evitar o erro, isso sim, é humano.
Já diria o gênio, Albert Einstein: "Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário."
Aproveito também para trazer uma pequena e interessante citação do Bem-aventurado Tito Brandsma, mártir, carmelita holandês (1881-1942), em "Convite ao heroísmo, na fé e no amor".
Muitas vezes ouvimos dizer que vivemos tempos maravilhosos, tempos de grandes homens. [...] É compreensível que haja quem deseje que se erga um chefe forte e capaz. [...] Essa espécie de neo-paganismo [o nazismo] considera toda a natureza como uma emanação do divino [...]; acredita que há raças mais puras e mais nobres que outras. [...] Daí vem o culto da raça e do sangue, o culto dos heróis do próprio povo.
Partindo de uma ideia tão errónea, essa maneira de ver pode conduzir a erros capitais. É triste ver quanto entusiasmo e quantos esforços são postos ao serviço dum tal ideal, falso e sem fundamento! Contudo, podemos aprender com o nosso inimigo. Com a sua filosofia mentirosa, podemos aprender a purificar o nosso próprio ideal e a melhorá-lo; podemos aprender a desenvolver um grande amor por esse ideal, a suscitar um imenso entusiasmo e mesmo a disponibilidade para viver e morrer por ele; a fortalecer a coragem para o incarnar, em nós próprios e nos outros. [...]