domingo, 16 de outubro de 2016

Esperar as boas surpresas da vida...

Querendo ou não, a vida nos surpreende e as vezes de tal forma que fica difícil acreditar. A questão é, se espera algo que é surpresa? Eu digo que sim quanto às boas, pois não estou aqui me referindo genericamente a qualquer surpresa, boa ou má, mas apenas às boas porque transbordam meu coração.
Uma boa surpresa me fez refletir que se eu não a esperasse, ela provavelmente não teria se revelado... Por isso é tão importante esperar, mesmo sem saber exatamente como será. Basta saber que é algo que você não planeja, mas espera. Não vê, mas sente. Está lá e em algum momento da vida, talvez até quando o campo de visão esteja limitado, ela se apresenta assim, de repente, e aos poucos vai se revelando sua dimensão. Metaforicamente, é como um rio - só sabe sua proporção exata quando deságua no mar... Até encontrar o mar, vê suas águas aprisionadas por margens muitas vezes estreitas, tem seu curso desviado por pedras, mas nada o impedirá de chegar ao seu destino, por mais longa que tenha sido a jornada.
Esta seria dentre todas as surpresas da vida, a maior. Há nela uma dimensão que não pode ser aferida até que tudo se revele, mas é esperada; está como que escondida, porque dentre tantas surpresas que a vida te apresentou, aquela a que me referi acima ainda não aconteceu ou pode ser que esteja naquele trecho final do rio onde já enxerga o mar, mas ainda enxerga suas margens também. Já consegue ver que sua dimensão é algo maior, bem maior do que o visto em todo o percurso até ali, mas ainda não sabe quão maior...
Grandes surpresas muitas vezes vão se revelando em etapas e a cada uma delas vamos constatando que se todas nos fossem dadas ao mesmo tempo não haveria tanta beleza em sua descoberta. O rio aos poucos vai perdendo a visão das margens, assumindo sua verdadeira dimensão de mar e já não consegue ver o fim ao olhar o horizonte. As pedras agora podem ser até maiores, mas contorná-las fará parte de uma trajetória que não mais mudará, pois ciente de que faz parte do mar imenso, ande por onde andar... 

domingo, 22 de maio de 2016

Uma grande obra política na visão de Jean-Jacques Chevallier

"Grandes obras na medida em que marcaram profundamente o espírito dos contemporâneos ou o das gerações ulteriores, e pelo fato de que, no próprio momento de publicação, como mais tarde e de certo modo retrospectivamente, marcaram época. Em outras palavras, beneficiaram-se, imediatamente ou não, do que se poderia chamar a ressonância histórica ou a oportunidade histórica. Não significa, em absoluto, que sejam todas intrinsecamente grandes, grandes em si mesmas, em valor absoluto, pela riqueza dos pontos de vista, compreensão serena dos mecanismos individuais e sociais, mestria na construção, clareza e força da expressão (...) mais que uma é imperfeita, irregular, disforme, senão prejudicada pela paixão partidária, e, ao menos em alguns de seus aspectos, -pode acontecer que o seja na própria essência - odiosa. Esses defeitos, porém, ou mesmo essas avarias, não a impediram, pelo contrário, de obter a ressonância histórica, de encontrar a oportunidade histórica, porque tal obra veio corresponder particularmente às preocupações, às paixões políticas do momento ou de um momento. Em sentido inverso, e por infelicidade, pode suceder que a oportunidade histórica deserte obstinadamente uma obra política intrinsecamente grande. (...) Por mais  profundamente que uma obra se possa prender, por sua origem, às circunstâncias da História, o que nela se encontra de melhor, de mais vigorosamente pensado e expresso, tende sempre a libertar-se, segundo a palavra do grande romancista inglês Charles Morgan, do "objeto do momento", para alçar, através do tempo, o seu vôo independente." ("As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias")