Querendo ou não, a vida nos surpreende e as vezes de tal forma que fica difícil acreditar. A questão é, se espera algo que é surpresa? Eu digo que sim quanto às boas, pois não estou aqui me referindo genericamente a qualquer surpresa, boa ou má, mas apenas às boas porque transbordam meu coração.
Uma boa surpresa me fez refletir que se eu não a esperasse, ela provavelmente não teria se revelado... Por isso é tão importante esperar, mesmo sem saber exatamente como será. Basta saber que é algo que você não planeja, mas espera. Não vê, mas sente. Está lá e em algum momento da vida, talvez até quando o campo de visão esteja limitado, ela se apresenta assim, de repente, e aos poucos vai se revelando sua dimensão. Metaforicamente, é como um rio - só sabe sua proporção exata quando deságua no mar... Até encontrar o mar, vê suas águas aprisionadas por margens muitas vezes estreitas, tem seu curso desviado por pedras, mas nada o impedirá de chegar ao seu destino, por mais longa que tenha sido a jornada.
Esta seria dentre todas as surpresas da vida, a maior. Há nela uma dimensão que não pode ser aferida até que tudo se revele, mas é esperada; está como que escondida, porque dentre tantas surpresas que a vida te apresentou, aquela a que me referi acima ainda não aconteceu ou pode ser que esteja naquele trecho final do rio onde já enxerga o mar, mas ainda enxerga suas margens também. Já consegue ver que sua dimensão é algo maior, bem maior do que o visto em todo o percurso até ali, mas ainda não sabe quão maior...
Grandes surpresas muitas vezes vão se revelando em etapas e a cada uma delas vamos constatando que se todas nos fossem dadas ao mesmo tempo não haveria tanta beleza em sua descoberta. O rio aos poucos vai perdendo a visão das margens, assumindo sua verdadeira dimensão de mar e já não consegue ver o fim ao olhar o horizonte. As pedras agora podem ser até maiores, mas contorná-las fará parte de uma trajetória que não mais mudará, pois ciente de que faz parte do mar imenso, ande por onde andar...
Equilíbrio: perseguido pelo incômodo desequilíbrio e mantido pela delicada situação de paz - somente a ponderação de valores pode ser útil nesta transição.
domingo, 16 de outubro de 2016
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
domingo, 22 de maio de 2016
Uma grande obra política na visão de Jean-Jacques Chevallier
"Grandes obras na medida em que marcaram profundamente o espírito dos contemporâneos ou o das gerações ulteriores, e pelo fato de que, no próprio momento de publicação, como mais tarde e de certo modo retrospectivamente, marcaram época. Em outras palavras, beneficiaram-se, imediatamente ou não, do que se poderia chamar a ressonância histórica ou a oportunidade histórica. Não significa, em absoluto, que sejam todas intrinsecamente grandes, grandes em si mesmas, em valor absoluto, pela riqueza dos pontos de vista, compreensão serena dos mecanismos individuais e sociais, mestria na construção, clareza e força da expressão (...) mais que uma é imperfeita, irregular, disforme, senão prejudicada pela paixão partidária, e, ao menos em alguns de seus aspectos, -pode acontecer que o seja na própria essência - odiosa. Esses defeitos, porém, ou mesmo essas avarias, não a impediram, pelo contrário, de obter a ressonância histórica, de encontrar a oportunidade histórica, porque tal obra veio corresponder particularmente às preocupações, às paixões políticas do momento ou de um momento. Em sentido inverso, e por infelicidade, pode suceder que a oportunidade histórica deserte obstinadamente uma obra política intrinsecamente grande. (...) Por mais profundamente que uma obra se possa prender, por sua origem, às circunstâncias da História, o que nela se encontra de melhor, de mais vigorosamente pensado e expresso, tende sempre a libertar-se, segundo a palavra do grande romancista inglês Charles Morgan, do "objeto do momento", para alçar, através do tempo, o seu vôo independente." ("As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias")
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