"Grandes obras na medida em que marcaram profundamente o espírito dos contemporâneos ou o das gerações ulteriores, e pelo fato de que, no próprio momento de publicação, como mais tarde e de certo modo retrospectivamente, marcaram época. Em outras palavras, beneficiaram-se, imediatamente ou não, do que se poderia chamar a ressonância histórica ou a oportunidade histórica. Não significa, em absoluto, que sejam todas intrinsecamente grandes, grandes em si mesmas, em valor absoluto, pela riqueza dos pontos de vista, compreensão serena dos mecanismos individuais e sociais, mestria na construção, clareza e força da expressão (...) mais que uma é imperfeita, irregular, disforme, senão prejudicada pela paixão partidária, e, ao menos em alguns de seus aspectos, -pode acontecer que o seja na própria essência - odiosa. Esses defeitos, porém, ou mesmo essas avarias, não a impediram, pelo contrário, de obter a ressonância histórica, de encontrar a oportunidade histórica, porque tal obra veio corresponder particularmente às preocupações, às paixões políticas do momento ou de um momento. Em sentido inverso, e por infelicidade, pode suceder que a oportunidade histórica deserte obstinadamente uma obra política intrinsecamente grande. (...) Por mais profundamente que uma obra se possa prender, por sua origem, às circunstâncias da História, o que nela se encontra de melhor, de mais vigorosamente pensado e expresso, tende sempre a libertar-se, segundo a palavra do grande romancista inglês Charles Morgan, do "objeto do momento", para alçar, através do tempo, o seu vôo independente." ("As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias")
Nenhum comentário:
Postar um comentário