terça-feira, 15 de novembro de 2011

"Desenvolvimento é uma cadeia de desequilíbrios..."


Ontem, lendo a coluna do Claudio de Moura Castro (revista "Veja" - 16/11/2011), onde comenta o que tem se chamado de "apagão de mão de obra" no nosso país, vi um belo exemplo sobre a importância da análise de um problema tomando por parâmetro um raciocínio paralelo e bem mais abrangente. É interessante perceber como o que ele disse não se restringiu a um raciocínio econômico, apesar de ser economista, e por fazer uma observação prática e simples, atinge vários problemas e não só o comentado. Desviando do foco do problema (mão de obra), sem contudo deixar de citá-lo, acertou o foco da causa. Isto serve de exemplo para todos nós, quando analisamos um problema de maneira restrita, sem fazer as devidas ponderações das variáveis que o cercam, que poderão ser a verdadeira causa e o ponto de partida para a busca de uma solução - ou que poderão tornar o próprio problema, solução.

Estava esse economista questionando se há mesmo um "apagão" de mão de obra nos setores em que mais precisam dela. E começou com uma frase simples, mas precisa: "Equívocos nos diagnósticos levam a equívocos nas terapias". E partiu do ponto principal, a definição do problema - o que é exatamente o problema?: "Os economistas, uns chatos, talvez, começam sempre insistindo para que as definições sejam sólidas. De outra forma, o que parece desacordo é puro ruído semântico. O que é apagão?"

Sem deixar de dar a devida importância à carência de mão de obra em muitos setores, esta não seria a premissa menor a levar a conclusão por raciocínio lógico: 1) a mão de obra é procurada , 2) não há mão de obra suficiente, 3) conclusão: "apagão de mão de obra". O raciocínio é prático assim, mas é outro. A resposta à questão teria sido apresentada em 1958, por Albert Hirschman, e está aí a parte que mais achei interessante, pelo raciocínio simples e lógico: "desenvolvimento é uma cadeia de desequilíbrios. A escassez induz novos investimentos, criando novos desequilíbrios...". Claudio, aproveitando a simplicidade, conclui que "a solução de um gargalo faz a economia crescer bruscamente , criando novos gargalos em outro setores. O crescimento equilibrado, em que tudo cresce no mesmo ritmo, é uma quimera ou uma façanha somente possível se tudo cresce devagar. A pressa  cria o desequilíbrio.".

Sua conclusão sobre o problema não poderia ser diferente - o próprio problema levará à solução - "é o próprio apagão que cria soluções que vão eliminá-lo". Ou seja, a área carente onde apareceu o gargalo favorecerá investimentos que suprirão, ainda que não a curto prazo, a necessidade e, enquanto isto não acontece, outras reações vão aparecer de acordo com o setor necessitado. No setor público, por exemplo, a reivindicação popular desencadeia processos e soluções que, apesar de políticas e não comerciais, refletirão na economia.

Ressalta, neste ponto, a importância da imprensa ao denunciar, da ação popular a reclamar e do diagnóstico correto do problema a direcionar.

Muito interessante a abordagem despreocupada de dados estatísticos que nada mais são que uma constatação de que um problema existe. Problemas existem e sempre existirão, mas simplificá-los, suportá-los pelo período necessário e diagnosticá-los de forma lúcida e concreta são a chave para o convívio pacífico e produtivo entre nós e eles. Veja-se o quanto é importante a análise do desequilíbrio que está aí a mercê das variáveis da vida...