Está correndo por aí, para quem quiser ver, a cena do repórter, Gelson Domingos da Silva, falecendo no meio de um confronto entre homens da PM e bandidos em uma favela do Rio - cena comum a que, infelizmente, já estamos acostumados. Hoje foi um repórter o atingido, ontem uma criança, um morador, amanhã pode ser outro destes ou alguém que desafortunadamente esteja passando por perto.
A violência desses confrontos não vê cara. Pode atingir qualquer um e, para a imprensa já tão acostumada a noticiar mortes neste cenário, foi quase como uma ofensa pessoal, porque desta vez a machete era sobre um dos seus e ouvi então a frase "isso é um atentado contra a imprensa!".
Fiquei me perguntando para que aquele repórter estava lá? Não sou contra a liberdade de imprensa, muito pelo contrário, dou o maior valor, sei da importância do trabalho dela, sei que pode, e muito, ajudar a trazer mudanças para o país, sei que a informação chega também por meio dela, mas sei, acima de tudo, que a vida vale muito mais que tudo isto e, como valor supremo que é, deve estar sempre em primeiro lugar - e o digo como advogada, conhecedora dos valores que regem nosso Estado, e como cidadã.
Fiquei me perguntando para que aquele repórter estava lá? Não sou contra a liberdade de imprensa, muito pelo contrário, dou o maior valor, sei da importância do trabalho dela, sei que pode, e muito, ajudar a trazer mudanças para o país, sei que a informação chega também por meio dela, mas sei, acima de tudo, que a vida vale muito mais que tudo isto e, como valor supremo que é, deve estar sempre em primeiro lugar - e o digo como advogada, conhecedora dos valores que regem nosso Estado, e como cidadã.
A liberdade de imprensa faz com que seus homens não sejam proibidos de se colocar dentro desse tipo de situação, correndo risco de morte e, digo mais, muitas vezes desviando a própria atenção dos PMs que precisam se concentrar em sua missão, pois ali está um civil, sem preparo para confronto, carregando um equipamento sobre os ombros, no meio da troca de tiros. Na recente cena, ao ver o repórter alvejado, um policial militar chega a pedir cobertura para atravessar a rua, se colocando em risco para tentar ajudá-lo, ou seja, deixa seu posto de ação por uma questão de dever profissional e humano, para tentar proteger aquela vida que já estava se esvaindo. Triste cena... como seria triste se estivesse ali, morrendo, um policial militar ou qualquer outra pessoa.
Não foi contra a imprensa que os bandidos atiraram, eles atiraram contra qualquer um e contra todos. Nem foi falha de informação da PM, esse tipo de imprevisão faz parte do trabalho deles, estão acostumados a se proteger e a se colocar em risco o tempo todo, porque são treinados para isto, para o imprevisível e para o confronto.
Mas me pergunto de novo: qual é o interesse da imprensa em ficar se colocando nessas linhas de frente de conflitos violentos? Não digo só aqui no Brasil, mas ao redor do mundo isso é muito comum e tido como valioso "furo". Imagens violentas sempre fazem "sucesso" infelizmente. Se esta missão da imprensa fosse destinada só a mim, se fosse eu a única destinatária da informação, diria que não preciso nem quero ser expectadora de um conflito desses e, apesar de gostar muito de filmes de ação, a realidade, ao contrário, mata de verdade e minha adrenalina não precisa chegar a esse nível e nem preciso colocar em risco minha vida ou a vida de ninguém.
Para ser bem franca, não vejo necessidade de um repórter fazer esse tipo de cobertura, salvo se fosse dentro de um carro ou helicóptero fortemente blindados, para que sua vida não seja colocada em risco em troca desse tipo de imagem e para que não coloque em risco a vida ou a atividade de policiais. Que cada um faça seu trabalho segundo seu preparo e função.
Sinto muito pela perda do premiado repórter e, como disse seu irmão, "ele gostava de fazer isso..." Tive um tio que era repórter fotográfico do Jornal do Brasil - Samuel Martins - que também fazia este tipo de cobertura em meio a confrontos, e ouvi dele relatos de cenas horríveis que presenciou e registrou. O que restou daquele tempo foram fotos, capas de primeira página e seu reconhecimento no meio como excelente repórter fotográfico.
Infelizmente, nada mudou por ter a imprensa registrado cenas tristes de confrontos, salvo nossa indignação que aflora com mortes violentas, desnecessárias, e com a notícia de que armas estupidamente potentes estão lá, onde não deveriam estar, a perfurar coletes à prova de balas. Nenhuma novidade. Para mudar alguma coisa é preciso vontade de quem tem poder para tanto e de quem concede tais poderes - nós. Não é a pressão externa exercida pela imprensa quando registra imagens chocantes que modificará o quadro atual. A imprensa tem armas muito mais eficazes que esta, como o poder para argumentar e para levantar importantes questionamentos. Tem também o poder para formar opiniões a fim de que se conjugue idéias com ações.
Trazendo a exemplo o ocorrido, imagens feitas nesse nível de risco não são indipensáveis - que se dê mais valor à vida.
Trazendo a exemplo o ocorrido, imagens feitas nesse nível de risco não são indipensáveis - que se dê mais valor à vida.